segunda-feira, 9 de outubro de 2017

OPINIÃO: “Tudo o que ficou por dizer”




Título: Tudo o que Ficou por Dizer
Autora: Celeste Ng 
ISBN: 9789892335032
Edição ou reimpressão: 04-2016
Editor: Edições Asa
Páginas: 248


SINOPSE
"Lydia morreu. Mas eles ainda não sabem."
Começa assim o avassalador romance de Celeste Ng. É de manhã, a família desperta para o pequeno-almoço. O pai, a mãe, o filho mais velho e a filha mais nova. Há porém um lugar vago à mesa e um silêncio que pesa. A filha do meio, a favorita dos pais, está ausente.
Como morreu, ou porque morreu, é para já um enigma. Há um inquérito, dúvidas, suspeitas e acusações. E uma teia delicada de dramas antigos, de segredos, que se vão desvendando pela voz (e pelo olhar) de cada um dos elementos da família. Apaixonamo-nos por eles, tão expostos (e tão frágeis) nesse momento de perda. Conhecemos a mãe, loura e de olhos azuis, que abandonou o sonho de uma vida pela filha - a quem depois virá a exigir o impossível. O pai, de ascendência chinesa, que projecta na única filha de traços ocidentais a sua própria integração na América. E conhecemos os irmãos de Lydia, a quem foram dadas apenas as sobras do amor - mas que nem por isso deixaram de a amar.
Tudo o que Ficou por Dizer é um romance pungente, narrado numa voz terna, por vezes poética, sempre precisa. É uma obra sobre os não-ditos, os abismos que se abrem nas famílias, os esquecimentos do amor. E sobre esse enorme mistério chamado Lydia, que na hora da sua morte ofereceu à família, por fim, uma hipótese de redenção.




OPINIÃO
Li este livro em setembro de 2017 e dou-lhe quatro estrelas.
A sinopse é muito clara e, por isso, rouba-me as palavras para expressar a minha opinião.
Uma rapariga exemplar morre.
Uma rapariga de quem muito se esperava morre.
Uma família morre.
Uma família renasce.
Lydia permanece morta.
Falemos de Lydia. Quantas Lydias existem neste mundo, nas mesmas condições? Os pais queriam mais para si próprios, falharam nos seus objetivos, perderam-se, as oportunidades rarearam ou simplesmente fugiram. São mil e uma as razões por que os sonhos não se realizam ou as metas nos eludem ou se perdem de vista. Lydia era uma tela vista pelos pais como um espelho melhorado, um expoente de grande potencial que pretendiam elevar ao máximo. Revia-se nela, principalmente a mãe. Ela perdeu; a filha podia ganhar. E ganhou - o peso do mundo encavalitado sobre os seus frágeis ombros, que queriam de aço. Como aço, nada mais expectável afundarem nas águas do lago a que Lydia caíra antes e onde nunca aprendera a nadar.
Esta é uma reflexão sobre o desmoronamento dos sonhos de adolescentes que se tornam adultos amargurados, a pressão colocada sobre os filhos em termos de expetativas, o questionamento de onde se falhou num processo de análise de retrospetiva profunda, o enfrentar da dor, o confronto com a perda e o vazio criado no lugar outrora ocupado por um recetáculo pleno de vida. Reflete-se sobre as pequenas coisas, como estas ficaram guardadas para nós mesmos e o que verbalizá-las ou exprimi-las podia ter mudado. Cometem-se erros, sente-se a picada e o ardor da sua ferida, aprende-se com eles e, após um arrastar penoso em que se procura um qualquer consolo ou solução milagrosa, arranja-se uma maneira de seguir em frente e viver um dia de cada vez.
Uma história cuja leitura recomendo.

Sem comentários:

Enviar um comentário